Eu não gosto de fantasmas. Não gosto. Nunca gostei. Aliás, eu os detesto.
Para mim, morreu, morreu.
Morte, em seu mais estrito significado quer dizer separação.
Quando alguém morre, é separado da vida. Quando alguém vai embora, é separado da presença do outro. Quando alguém é exilado, é separado de sua terra, e por aí vai.
Assim é que eu não gosto de ficar sentada sobre nenhum túmulo demasiado tempo. Eu choro, sofro o que tenho de sofrer, mas sem, contudo, vestir meu coração de negro.
Eu gosto de sorrir. Demais. Embora não pareça que é assim.
Mas, pessoas que gostam de sorrir também choram. E seu choro é mais sentido, justamente porque sabem o valor de cada lágrima que derramam.
Por tudo isto é que eu escrevo, no intuito de serem as palavras as mãos que enxugam meus olhos. E funciona. Porque eu não posso gritar. Até queria muito poder gritar. Mas não posso. Ficariam escadalizados, iriam me internar. E eu não estou nem um pouco a fim de ser trancafiada num manicômio, muito embora eu saiba que está assim ó, de gente louca para fazer isto comigo.
Eu fico, assim, pensando em certas criaturas que vivem de atormentar a vida alheia, saídas de um passado longíncuo, sempre à espreita, caminhando por entre as gretas dos caminhos, esperando apenas que a gente dê um passo para desferir seu famoso Buuuuuuuuuuuuuuu!!!
Há os que gostem muito da experiência, fornecendo lençóis para que esses espectros se encham de matéria, neste caso, matéria do viver alheio.
E há os que simplesmente lembram-se dessas presenças que, um dia, fizeram parte de seu viver. Com saudades até. Outras tantas tem sua breve passagem por nossas vidas lembradas com tal pesar, que sua separação é um alívio eterno.
Outras pessoas não são fantasmas. São lembranças gostosas de tempos magníficos, de parte de uma existência doce e suave - ou então uma venturosa corrente avassaladora que coloca tudo no chão e nos faz reconstruir a vida de modo tão maravilhoso. Como é bom sentir a presença desses novamente! Lembrar assim, é ressussitar algo bom, ao passo que determinadas lembranças nos faz enlutar outra vez.
Ainda outro dia eu recebi um comentário de alguém que dizia que sua atual companheira havia sido azucrinada por sua ex.
Gente! Ninguém merece, né? Não dá!!!
E eu disse a essa pessoa que a sua companheira não precisava haver passado por isto. Porque ela nada tinha a ver com a vida pregressa dele e da ex, afinal.
A vida que construiriam juntos é que tudo tinha a ver com ela e com ele!
Até quando as pessoas acham que podem se tornar fantasmas na vida das outras dessa maneira?
Eu não precisei ter 30 anos para saber que o que eu não quero que façam a mim, não farei a mais ninguém.
Posso até haver cometido meus erros, e ainda posso cometer outros tantos. Mas, daí a dizer que eu gosto de atormentar a vida alheia... Tenha santa paciência.
Eis aqui meu olhar indignado. Porque ando cansada. E tenho dito!
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