terça-feira, 10 de abril de 2012

Em Cena

Faz tempo, eu estava vendo, que eu não passo por aqui... E resolvi me reler e vi o quanto a minha vida mudou. Depois dos dissabores que me fizeram criar este blog, e depois a enorme necessidade de expressar a nova fase da vida, agora veio a fase mãe-esposa-dona de casa-profissional que tem me consumido quase que totalmente. E eu estou com muitas saudades de escrever. Muitas vezes a inspiração até vem e eu quero muito vir aqui. Só que não dá naquela hora. E aí a inspiração vai embora. 
É que eu sou assim mesmo. Se não for naquele instante, eu acabo me esquecendo e as horas vão consumindo minhas palavras até um ponto em que não lhes sobra nem o átomo que gerou o pensamento.
Sou mãe agora. Tenho uma linda prioridade que alegra a minha vida e me desdobra em pensamentos e atitudes que requerem tudo de mim. A esposa que nem sempre tem tido tempo para o seu amado para lhe dar a atenção que merece - e merece mesmo -, e uma dona de casa que tem estado um tanto negligente com o seu lar, uma profissional que não pode deixar a peteca cair e uma mulher que, no meio disso tudo quer voltar a ser.
É... E aí um dia desses, desprovida de todos esses papéis porque estava recuperando a saúde na marra, eu vi que tudo isso está junto. A mulher é a atriz que desempenha todos os outros papéis, inclusive o dela mesma.
A atriz, entretanto, tenta desempenhar um papel que lhe é difícil que é o da nova mulher que surgiu juntamente com também o novo papel de mãe. 
Acho que não estou dando conta do recado e estou com medo de, no palco, esquecer as falas. De não saber como me mover, de não saber qual o melhor tom de voz, qual a melhor roupa para o novo corpo, qual a melhor maquiagem para os novos olhos, qual a melhor música para seus novos momentos. Estou perdida! Apavorada com a possibilidade de receber vaias. Não, não quero aplausos, não! Quero só entrar em cena e representar os meus papéis da melhor maneira possível sem falhar naquilo que é minha obrigação...
Quero entrar nos eixos e eu me sinto tão pesada, em tantos sentidos.
Estou triste... E queria descobrir onde eu deixei o papel onde estava escrita a alegria de ser a nova mulher que me tornei... Perdi aí em algum lugar e não consigo encontrar.
Lembro-me dos versinhos de Quintana 
"Quantas vezes, em busca da ventura
Agimos tal e qual o velhinho infeliz
Que por toda parte os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz..."
Mas, eu já passei a mão no nariz para saber se ela está lá. Tá não. Nem no alto da cabeça. Não sei mesmo onde está.
Mas, de tanto procurar, eu sei que vou achar novamente. Senão, Autor, vê se escreve de novo para mim... Gosto tanto dos sorrisos que a mulher dá. E de me sentir poderosa com aquele brilho no olhar que só a alegria tem. Gosto também do carinho que ela traz junto de si. E das intenções que vem com os gestos leves e puros originados num sorriso que vem lá de dentro do coração.
Sei que a vida é tão maravilhosa, mas eu não estou conseguindo enxergar porque sou miope, eu sei. Tenho de buscar modos de corrigir isto.
Tenho uma desconfiança, entretanto. De que aquele papel que eu disse que perdi e o papel que eu falei que era novo, são, na verdade um velho papel que pouco se modificou, mas, de qualquer forma, se perdeu.
Sou eu. Crise de identidade. Crise de ser, crise de viver. Vou dar uma de diva mimada e embirrar e não vou me mover enquanto não encontrar o que se perdeu e não entrarei em cena até que consiga encenar direito o papel que - eu sei -, vou encontrar.