Umas das coisas de que mais gosto nessa história de 30 anos, é o direito que adquirimos de, aos poucos, nos livrarmos de certos pesos.
Dizem que pessoas velhinhas tem o direito de dizerem o que quiserem quando bem entendem. E acredito que isto é fruto das cadeias das quais vamos nos livrando ao longo da vida.
Bom, claro que os "freios" ainda tem de existir enquanto somos jovens, pois trabalhamos, estudamos, dependemos de pessoas que, muitas vezes, são extremamente desagradáveis. Toleramos porque, frequentemente, são criaturas que tem ascendência sobre nós.
Eu, graças a Deus, sempre tive muita sorte de trabalhar com pessoas magníficas. Só que, não sei por que cargas d'água, eu, volta e meia, esbarro em gente que é, digamos assim, no mínimo, mal educada.
Sempre atraí a antipatia de alguns. Pouquíssimos, é verdade. Mas, sempre há um.
Acho, é claro, que eu beiro o insuportável com meus modos um tanto afetadinhos. Com meu jeito de andar com os pés sempre adiante um do outro. Com essa postura de quem engoliu um cabo de vassoura e esse nariz empinado. Esse olhar meio blasé, esse jeito de falar...
Mas, apesar de tudo, acredito que o que passei ao longo da vida, me dá o direito de ser o que eu bem entender. Até antipática, se for o caso. E de dizer, quando, onde, para quem eu desejar, o que eu quiser.
Ainda mais quando me sinto em meu território.
Então fica acordado, combinado, contratado, que eu serei apenas o que eu desejar ser. E que eu me restrinjo o direito de ser educada, cortez, gentil e civilizada na maior parte das vezes. Mas que, quando pisarem nos meus calos, quando magoarem as minhas feridas, quando ofenderem minha honra, quando matarem os meus sonhos, quando infringirem minhas leis, quando desmancharem meus costumes, quando me calarem a voz, quando eu acordar com o pé esquerdo, eu vou dizer o que penso, vou xingar, vou gritar, vou gemer, vou chorar e até me calar.
Afinal, passei um terço da minha vida calada. Muda. Quando eu era ferida eu gemia baixinho. Quando era contrariada, eu ficava em silêncio porque tinha medo de magoar. Quando eu era elogiada, eu baixava os olhos porque não acreditava e achava que nem tinha o direito de acreditar. Quando eu desejava, eu freava minhas vontades, porque temia machucar os que amava. Quando me irritava eu dormia para esquecer. Mas, não esquecia. E as vozes do meu coração sempre estavam lá, apesar do meu silêncio. E, a despeito de minha calma, a despeito de meus olhos baixos, apesar da minha incredulidade em mim mesma, a vida passou. Depressa demais. Devagar demais.
Os fios de cabelo já teimam em descorar. E o corpo já não é mais o mesmo. O sono é prejudicado mais facilmente. Porque agora eu não quero esquecer de nada. Muito pelo contrário. Quero é lembrar. Desejo ardentemente a vida que se impõe, poderosa, à minha frente, com a sede dos que vagueiam pelos desertos em busca de água, de alimento e de gente.
Eu aprendi - e levei três décadas para isso - que, independentemente do que eu faça, alguém sempre vai falar mal. E alguém sempre me amará.
Aprendi a não abrir mão de coisas que me dão extremo prazer e, o mais importante, a não ter vergonha disso. Eu tenho direito sim!
E, se me dá prazer ir ao cabeleireiro dar meus olhos para pagar por um tratamento VIP, para ser bajulada - ainda que eu saiba que é só pelo meu dinheiro - eu vou.
Se me enche de alegria - ainda que momentaneamente - ir àquela loja que eu amo, cheia de meninas que amo mais ainda e comprar aquele vestido lindo que vai me deixar penduradinha por uns 3 meses, eu vou que vou!!!
Gente! Estou em um processo de aprendizagem importantíssimo e irreversível: O de me amar!
Eu sempre desejei ardentemente amar alguém mais que tudo no mundo e de fazer esse alguém feliz. Claro que ainda desejo isto. E desejo ter uma família bem linda e alegre.
Isso é algo que me faz extremamente contente também: Ver as pessoas que eu amo felizes me faz pagar qualquer preço. Só que isto, agora, tem um novo componente: Me faz pagar qualquer preço, desde que eu não tenha de me vender. Desde que eu não tenha de vender a minha própria felicidade.
Pois, só posso fazer dos meus olhos uma janela porque eu me vejo em um espelho. E, por um bom tempo, as luzes da minha vida estavam apagadas, razão pela qual eu não podia enxergar a minha própria existência.
As luzes começaram a se acender há pouco mais de um ano quando um dia, despretenciosamente, alguém me disse que eu era bonita. Foi como uma campanhia que soou estridente dentro de mim, dizendo-me que a vida era muito mais do que o que eu tinha.
Imagino que possa alguém ler essas palavras e pensar que estou menosprezando o que eu tinha. Não! A vida me era como um sono necessário à reparação de um cansaço existencial extremo. E eu acordei depois de muito descansar. Simples assim.
Agora, eu me sinto bem melhor. Tudo é muito real.
Diferente de quando eu olhava ao meu redor e parecia que eu não cabia em nada e que nada cabia em mim. Aquela vida era como uma roupa apertada que toleramos por um determinado tempo, depois não dá mais.
Hoje eu tenho uma rotina muito mais difícil, tenho de pagar minhas dívidas, tenho de comprar aquilo que é necessário para mim, tenho de esquentar a cabeça como coisas que antes eu não esquentava. Mas, quer saber? Como isso é bom! Muito. Demais da conta!
Agora, até as tristezas que eu enfrento eu devoro com gosto de mel! E o motivo é muito simples: Eu sou gente! E vivo! E a cada manhã eu penso: Bom, menos um dia eu tenho agora para viver. E esse presente que me é dado vou desfrutar como aquele prato caríssimo, feito com trufas negras, salpicado de pó de ouro que eu tanto cobiço... Sei lá! Vai que nunca mais eu tenha a chance de provar... Se morrer envenenada, pelo menos morro com pó de ouro na boca... E com um gosto magnífico de trufas para lembrar por toda a eternidade... Hehehehehe!!! E ainda vou achar que morri muito bem... No mínimo será em um restaurante first class!
Coisas de uma balzaca maluca, que ama o amor, que é feliz e que agora acrescenta mais uma qualidade aos seus 30 anos - para fazer jus ao nome do Blog: A de ser ela mesma!
Aiai... Ufa!